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O que fazer quando o bullyng chega por e-mail profissional

Os e-mails eram “hostis e constantes”. Jane Allen, uma representante de vendas de uma empresa médica dos Estados Unidos, passava metade do dia respondendo ao seu chefe e se defendendo de calúnias cruéis. A coisa chegou ao ponto em que ela tinha medo de checar sua caixa de entrada por temer uma nova humilhação. “Eu via um email chegar no meu telefone e passava mal.”

Com filhos e uma hipoteca para pagar, Jane Allen — que pediu o uso de um nome fictício para este artigo — sentia-se incapaz de deixar o emprego. Assim, ela ficou no trabalho até conseguir encontrar uma nova posição. “Era como se eu estivesse em um campo de batalha. Sempre na defensiva, tentando me desviar das balas.” Isso acabou afetando sua capacidade de dormir, abalou sua confiança e levou à depressão.

Jane, que hoje tem outro emprego e considera a possibilidade de levar o ex patrão à justiça, sente que os e-mails eram uma forma de “cyberbullying”, diferente da intimidação (bullying) convencional que ocorre nos locais de trabalho.

Os e-mails eram particularmente perniciosos, diz ela, uma vez que estavam lá para serem lidos e relidos.
Para Jane — que dependia de seu celular para se manter em contato com o escritório e os colegas enquanto estava na rua —, eles significavam que seu perseguidor estava sempre com ela.

Pesquisadores geralmente definem o cyberbullying no local de trabalho como uma situação em que um indivíduo é repetidamente alvo de atos percebidos como negativos, conduzidos por meio da tecnologia — email, sites, redes sociais — relacionada ao seu contexto de trabalho. Samuel Farley, do Institute of[]Work Psychology da faculdade de administração da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, está pesquisando o assunto.

O serviço de conciliação Acas, do Reino Unido, elabora sobre como isso pode se manifestar nas mídias sociais: “Fotografias inapropriadas, comentários ou tratamentos ofensivos e ainda informações pessoais sensíveis podem ser postados de maneira vingativa. Um gestor ou funcionário podem ser os alvos. A vítima pode ou não estar ciente de que está sendo alvo de bullying”. Por exemplo, eles podem ver a ameaça que está sendo enviada por email, mas podem não ver os comentários sobre eles em uma rede social.

Gary Namie, psicólogo social e diretor do Workplace Bullying Institute, dos Estados Unidos, diz que os cyberbullies são sempre agressivos, de uma maneira que jamais seriam ao vivo: “A tecnologia torna muito mais fácil alguém ser odioso e cruel à distância”. Ao contrário do bullying praticado pessoalmente, o fato de carregarmos nossos smartphones conosco para todos os lados significa que os cyberbullies podem penetrar na segurança dos lares das pessoas. Em alguns casos, um cyberbully pode ser anônimo, ao contrário da situação de Jane Allen, em que o perpetrador podia ser facilmente determinado.

Samuel Farley diz que a tecnologia pode exacerbar o comportamento agressivo. “Quando você trabalha a distância, há o problema da desindividualização — você se concentra em telas e fica menos compreensivo. Isso pode leva-lo
a enviar para alguém algo que não teria coragem de dizer pessoalmente”. Nancy Willard, que trabalha em campanhas contra o bullying de crianças nos EUA, concorda. “A tecnologia tende a aumentar o teor emocional. Há um maior público em potencial — online,mais pessoas podem vê-lo.”

Muitas vítimas sofrem em silêncio, diz Farley, porque elas percebem o cyberbullying como um problema que afeta os mais jovens na escola, em vez de adultos no local de trabalho. Consequentemente, ele pode ser um problema pouco informado no escritório. “Ninguém conhece sua escala”, acrescenta ele.

Anastasia de Waal, diretora adjunta do centro de estudos Civitas, diz que “o cyberbullying é muito difícil de ser controlado e pode se espalhar rapidamente”. Se você sentir que está sendo alvo dele, diz ela,mantenha um registro: “É uma boa maneira de observar um padrão”. E, finalmente, informar o[]problema ao seu patrão.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

 

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